Vida que segue

   É o mesmo lugar, mas os tempos são outros, são os mesmos móveis, as mesmas peças, a mesma parede. Mas nada é a mesma coisa. Tenho vivido na filosofia: "vida que segue" cuidando para não cair no erro da vida seguir e eu ficar. Isso aliás, é uma armadilha perigosíssima de nossas próprias emoções, não ver o tempo passar enquanto a vida segue. E a vida segue muito rápido. Quando se dá por si, é um novo dia, uma nova semana e um novo mês. Quando se dá conta o ano acabou. Faltam poucos menos de três meses para o fim do ano, a vida seguiu. Ela sempre segue, com ou sem nós ela estará sempre passando.  É a mesma casa, o mesmo quintal, a mesma cama, mas os tempos já não são mais os mesmos. O tempo passou, não somos nós ali naquela cama, nem no portão se despedindo. Não somos nós, andando de mãos dadas, na rua que é a mesma. Não somos nós dentro das mesmas paredes, mas as paredes elas permaneceram.  Tudo está absolutamente igual. Ainda nos vejo em flashes andando por aquela rua, dobrando aquela esquina, ainda nos vejo se despedindo no portão. Todo o cenário permanece exatamente igual. Mas nós, nós não estamos mais lá. Nós passamos por que a vida seguiu nos levando à outras ruas, à outros portões, outras camas, outras mãos para segurar em quanto se caminha com outras vidas. No tocante à mim, me cabe cair em sí antes que seja tarde de mais em compreender que os móveis, a rua, e as paredes não podem mudar e se moverem sozinhos.

   Aquela rua será sempre a mesma rua, estas paredes, serão sempre os mesmos tijolos. A cama, será sempre uma cama. Já eu, eu preciso mudar. Eu devo, eu tenho que mudar e seguir com a vida. Já não basta a "vida que segue". Precisamos seguir também.

   Siga à sua vida…