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quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Quando queimei todas as suas cartas ...

  
  Foi o pensamento que me visitou, meio que de repente, em uma noite destas. Em que a gente abre um livro e acha uma fotografia perdida. Então o chão se abre, as paredes se afastam, e você é levado à um tour de emoções, lembranças e sensações. À lugares e cheiros, à momentos e risos, lágrimas e promessas. A foto em minha mão parecia me julgar de atos que joguei em baixo do tapete. Em assuntos até então dados por encerrados. 
   Me faz lembrar que ela também deve ser queimada. Sim! Uma queima de arquivo. Nada pode restar que me julgue de minhas perdas e fracassos. Afinal, vida que segue, não? Quando queimei aquelas cartas elas estavam vivas, elas tinham o cheiro do perfume das mãos que a escreveram. Tinham o DNA no batom da marca de um beijo que selou o envelope. Talvez vestígios de suor dos dedos de quem manusearam os papéis. Naquelas cartas tinham um testamento de amor, de juras eternas, de sonhos sonhados à dois. — se era amor por que acabou? —me perguntei, acabou por que um real sentimento não sobrevive só de promessas, seria como alimentar nosso corpo à base de algodão doce, é inevitável que padeça. — Respondi à mim mesmo. 
   O amor precisa de atitudes, de ações firmes, de clareza, e de sacrifícios. O amor é uma coisa de doido. Quebra todas as regras do normal e das explicações lógicas. Aquelas cartas tinham de ser queimadas. Não fazia sentindo algum serem apenas de um, lembranças de dois. Por que se condenar sozinho a culpa de algo que deveria ser de duas pessoas responsáveis por uma história? As cartas foram julgadas e condenadas à pena de morte. 
   E queimaram. Cartas, lembrancinhas, fotos, tudo que compilava uma vida que foi à dois, e agora estava manca, como uma perna só sem muletas. Queimaram, se contorceram e gritaram. Estalavam no fogo, e eu as assistia em lágrimas, que serviram de combustível para a coragem do momento. Seus gritos até hoje eu ouço dentro da minha cabeça. Foi o que restou de uma infeliz tentativa de esquecer. Apenas uma lição aprendida: "Devemos respeitar nosso tempo nosso luto e considerar nosso passado". Afinal o que não mata ensina.

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